A ENFERMEIRA - A NOITE CAI… 3° PARTE

 

A NOITE CAI… 3° PARTE A ENFERMEIRA.

O que vivenciei na casa daquela mulher foi uma das coisas mais insanas que já passei. Aquele bebê todo roxo chorando no berço não saía da minha cabeça. Por conta disso, deixei a pesquisa sobre o que aconteceu com Carla de lado por um bom tempo, mas esse carma me persegue. Acabei encontrando sua irmã; conversamos sobre diversas coisas, mas foi inevitável não falar dela. Quando dei por mim, estava desabafando novamente sobre aquela terrível cena que os paramédicos não souberam me explicar. Carla sangrava pelos olhos, nariz e boca, repetindo a mesma frase: “a noite cai, a noite cai, a noite…”

Aquela lembrança voltou a me assombrar. E aquela imagem do bebê roxo chorando naquele berço velho já não era mais o mal que me aterrorizava durante o ócio.

Voltei à pesquisa na internet sobre hemorragia, mas eu sabia o que tinha que fazer. Eu tinha que ir atrás das pessoas que passaram pela mesma situação.
Voltei ao hospital e perguntei se alguém poderia me dizer onde encontrar a enfermeira que me atendeu naquela noite. Um rapaz de branco disse que haviam acabado de trocar de plantão e que talvez eu a encontrasse saindo pelos fundos do hospital. Corri o mais depressa que pude e a encontrei se despedindo de outras enfermeiras. Esperei ela se afastar de todas, e quando nos distanciamos bastante do hospital, eu gritei por ela.

EDSON
Ei!

ENFERMEIRA
Meu Deus...

Quando ela me viu, seus olhos saltaram para fora do rosto, e ela se pôs a correr. Eu achava que não pegaria bem um homem correndo atrás de uma mulher na rua, mas me enganei. Ninguém se importou com sua aflição, e se as minhas intenções fossem de lhe fazer algum mal, com certeza eu teria feito, já que ninguém interveio por ela. Que mundo triste é este. Finalmente, eu a alcanço e a seguro pelo braço.

ENFERMEIRA
Por favor, não faça nada comigo. Eu juro que não vou contar para ninguém que eu sei que foi o senhor.

EDSON
Fazer o que com você? Olha, deve estar tendo algum mal entendido. Não vim fazer nada com você, só quero saber se pode me dizer se conhece mais alguém que teve um caso parecido com o meu.

ENFERMEIRA
Pra que? Pra você invadir o lugar e assassinar a pessoa igual fez com aquela pobre mulher?

EDSON
Você acha... não acredito nisso. Você está achando que foi eu que a matei?

Ela não diz nada, só me olha com medo.

ENFERMEIRA
Se não me soltar, vou gritar aqui na rua.

Eu a solto, mas ainda assim não vou embora. Preciso saber mais a respeito dos casos.

EDSON
Olha, eu não matei ninguém. Aquela mulher era maluca, ela torturava um bebê naquela casa e mantinha um homem preso lá dentro, e foi ele quem a matou. Ela me contou sobre o caso da morte do filho dela, não teve nada a ver com aqueles outros casos de hemorragia espontânea. Acredite em mim, ela o matou.

ENFERMEIRA
Como se um assassino assumiria que matou alguém. Eu trabalho em um hospital, sei muito bem que ninguém se responsabiliza por uma morte. Se ela matou o filho, por que não acusou nada no obituário?

EDSON
Provavelmente porque o responsável pelo obituário não deve ter tido o trabalho de examinar o corpo do garoto. Minha esposa foi o sexto caso daquela noite, não a examinaram em nada. Aposto que depois do terceiro caso ou quarto, o médico ou enfermeiro responsável por dar o óbito não se deu o trabalho de examinar os corpos. Só mais um caso de hemorragia sem sentido. Você, que trabalha no hospital, deve saber o quão irresponsáveis são seus colegas de trabalho. E se ainda acha que estou mentindo, faça uma denúncia na polícia para retirarem o corpo do garoto da cova para uma investigação. Quando acharem a marca da marreta no crânio daquele menino, alguém vai perder o emprego naquele hospital.

ENFERMEIRA
Mesmo assim, não posso te ajudar. Não conheço nenhum outro paciente daqueles casos de hemorragia. Me deixa em paz.

Eu novamente agi por impulso. Não poderia ir embora sem pelo menos uma informação que pudesse me ajudar no caso de Carla.

EDSON
Olha aqui, sua garota frangalha e chorona...

Que péssimas ofensas. Eu realmente não sei como intimidar alguém. Espero que o medo dela seja tão grande ao ponto dela se apavorar comigo.

EDSON:
… pode gritar o quanto quiser. Ninguém na rua se importa. Eles devem pensar que é só mais um casal discutindo na rua. Eu posso esfregar essa sua cara contra a parede, e ninguém vai te ajudar. Então, acho bom você cooperar.

Nossa, desta vez eu não me reconheci. Me alterei de verdade. Ela até largou a bolsa no chão e começou a chorar.

ENFERMEIRA
Por favor, não machuque o meu rosto. Eu vou ajudar o senhor, mas não me bata, por favor.

EDSON
Que engraçado, agora você pode me ajudar - levanto minha mão para intimidá-la ainda mais.

ENFERMEIRA
Olha, eu arrumo pra você os nomes, nada mais. Mas tem que me prometer que vai me deixar em paz e que não vai me bater.

EDSON
Eu prometo.

Eu até queria ficar feliz com isso, mas não consigo me sentir bem depois de amedrontar essa pobre moça.

Ela disse que se chama Fernanda e que me entregaria os nomes em alguns dias. A intimidei novamente e pedi seu número de telefone, mas ela não quis me passar, disse que não mandaria os nomes pelo celular, pois tinha medo de vazar a nossa conversa com print e perder seu emprego. Concordei, e marcamos de nos encontrar naquela mesma rua em três dias.

E lá estava eu aguardando ela, mas ela não apareceu. Fiquei lá a tarde inteira.

Decidi ir até o hospital e perguntei a um enfermeiro se sabia da Fernanda, uma enfermeira loira que trabalhava lá. Ele então foi chamar a Fernanda para mim, mas uma mulher que nunca vi na vida me atendeu.

FERNANDA
Pois não, o que o senhor quer?

EDSON
Queria falar com a Fernanda.

FERNANDA
Sou eu. Acho que deve ter algum engano. Como é essa tal Fernanda que o senhor está procurando?

EDSON
É uma loira.

FERNANDA
Assim fica difícil, senhor. Sabe quantas loiras tem aqui? Mas tenho certeza que não é a Fernanda que o senhor quer encontrar. Eu sou a única Fernanda loira, e a outra trabalha no período da manhã e é ruiva.

Maldita mentiu o nome pra mim. Bom, melhor eu ir embora e considerar isso apenas um mal-entendido. Antes que eu pudesse abrir a boca para me desculpar, outra enfermeira aparece e me segura pelo braço.

ENFERMEIRA 2
A enfermeira que você procura é uma loira que tinha um peitão bem grande e usava bastante maquiagem, como se estivesse indo para uma festa?

EDSON
Bom, a descrição é bem próxima.

ENFERMEIRA 2
E ela tinha uma pinta no canto da bochecha, uma pinta falsa que ela fazia com maquiagem. Mas ela sempre fazia.

EDSON
É essa mesma.

ENFERMEIRO
Ei, eu já vi esse cara, ele veio aqui alguns dias atrás.

Droga, é o enfermeiro que conversei da segunda vez que vim aqui. Sinto a enfermeira apertar meu braço com mais força.

ENFERMEIRA 2
Fernanda, chama a segurança. Ele deve saber algo do suicídio da Bea.

EDSON
Que suicídio?

FERNANDA
Seguran-

A Fernanda corre para chamar um segurança, mas a vejo cair no chão por não conseguir correr em cima do salto.

ENFERMEIRA 2
Antes de ontem, ela foi pega mexendo em arquivos do hospital sem autorização. O chefe do hospital a demitiu. Enquanto ela buscava as suas coisas no quartinho do hospital para ir embora, ela injetou uma mistura de coquetéis no braço. A Bea tinha problemas de ansiedade. Eu não sei o porquê dela resolver mexer naqueles arquivos, mas acho que você sabe e vai ter que explicar isso para a polícia.

Se minha vida fosse um mapa espalhado em cima da mesa e eu pudesse apontar momentos que não me orgulho, com certeza esse seria o primeiro desses momentos. Puxei meu braço para que aquela enfermeira me soltasse, mas ela continuava me segurando. Então, dei um soco em seu rosto. A pobrezinha caiu no chão me xingando muito.

ENFERMEIRA 2
Filho de uma puta, covarde! covarde! covarde…

Mais uma pessoa para minha lista de desculpas. Saí correndo e empurrei o enfermeiro, que nem tentou me segurar, pulei a Fernanda, que ainda estava se levantando do chão e segui pelos corredores. Cruzei o portão do hospital e subi no primeiro ônibus que vi. Que rumo minha vida está tomando? Estou completamente sem chão. Não acredito que, por minha causa, ela se matou! Não é possível. Nunca vou descobrir o que aconteceu com Carla, e agora sou responsável por um suicídio.

Continua…

A NOITE CAI

A NOITE CAI - 2° PARTE

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