A CARTA DE MARIANA

A CARTA DE MARIANA

Luiz, um homem alto de aparência abatida, caminha pela rua durante a noite até parar em frente a uma casa onde chama por Renato.

- Renato! Oh Renato! - ele chama.

Um belo jovem de olhos castanhos, cabelos escuros e barba que vagamente se parecia com Luiz abre a porta. Ao ver Luiz, o rapaz desce as escadas com um sorriso largo em seu rosto.

- Oi pai, chegou bem a tempo de pegar o jantar. Pedimos pizza, entra aí.

Obrigado, meu filho, mas antes de entrar, precisamos conversar. Hoje, eu encontrei isso em cima da mesa - disse Luiz em um tom de preocupação, mostrando uma folha de papel amassada com algumas poucas palavras escritas.

Quando vi esta carta, senti um arrepio passar pelo meu corpo e, ao abrir o papel e ler, senti uma angústia tão grande que me tirou o ar do peito.

- Renato, essa é a carta de suicídio da minha esposa.

- Da Mariana, pai? - perguntou Renato, com um olhar preocupado.

- Sim, filho, é da Mariana.

Renato abraça seu pai com força, em seguida, tenta confortá-lo.

- Deve ser muito difícil achar essa carta tanto tempo depois, mas pai, o senhor é um homem forte...".

Luiz, porém, o interrompeu pegando em um dos seus braços e o apertando com força. Ele ergueu a cabeça sem mudar seu olhar de preocupação, respirou fundo e continuou a conversar com seu filho.

- Desculpa te interromper, mas Renato, não estou aqui para lamentar minhas dores. Veja bem, meu filho, encontrei essa carta no dia do suicídio e achei que seria melhor entregá-la aos policiais, para usarem como evidência e prova do suicídio. Mas na semana seguinte, eu acabei encontrando a carta sobre a mesa e pensei: “talvez eu não tenha entregue para a polícia”. Achei mesmo que a tivesse esquecido ali sobre a mesa durante a semana inteira, sem ao menos ter notado. Sabe, meu filho, o luto é algo muito difícil de lidar. Ficamos confusos e um homem velho como eu tem a memória tão falha, que às vezes nem me recordo do que comi antes de dormir. Então, aceitei o óbvio e, para não ter que passar por esse susto novamente, decidi me desfazer da carta e hoje faz uma semana que a queimei, explicou Luiz, com a voz trêmula quase chorando, talvez por culpa talvez por medo.

- Mas se o senhor a queimou, como pode estar com ela aqui? - perguntou Renato, ainda confuso.

- Não faço ideia, meu filho. Tudo que sei é que no fim da tarde, novamente, a encontrei em cima da mesa. E, por um momento, achei que meus olhos estavam me enganando, mas a carta que dei para a polícia, a carta que eu havia queimado, estava lá... ela estava lá do mesmo jeito de quando a encontrei pela primeira vez, como no final da tarde daquele dia em que ela se matou - completou Luiz, aterrorizado deixando visível seu sentimento.

- O que tem nesta carta, pai? - perguntou Renato, mesmo com medo da resposta.

Após a pergunta, uma sensação fria passou pelo corpo de Renato e ele tremeu todo. Luiz, então, abriu o papel com as mãos trêmulas e pronunciou as últimas palavras deixadas por Mariana.

"Estou indo na frente, mas volto em breve para te buscar".

Por: Mudo

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