CAIXÃO NA BARRAGEM

CAIXÃO NA BARRAGEM

Era difícil para Oscar andar à noite, principalmente ao perceber o chão tão distorcido. Não sabia o que seria pior: chegar em casa tão embriagado ou ser encontrado no meio da rua; não queria passar vergonha, ainda mais tendo bebido tão pouco.

A solução seria cortar caminho pela barragem. Afinal, ele precisava chegar em casa rapidamente, antes que o álcool em seu sangue o deixasse inconsciente.

Se já era difícil andar, imagine passar entre os arames farpados do pequeno cercado, proeza que ele realizou sem se machucar. Seu único dano foi um pequeno rasgo em sua camisa, algo que sua esposa poderia costurar depois. Além disso, um pequeno rasgo na camisa não seria suficiente para lhe render fama de bêbado.

Ao longe, perto da margem da barragem, ele avistou a silhueta de uma mulher. Conforme caminhava e se aproximava, tentava reconhecer aquela figura distante. Poderia ser alguma conhecida, e Oscar não queria que ninguém o visse naquela situação deprimente. Tentou focar cada vez mais o olhar naquela pessoa distante, o que fez com que acabasse tropeçando e caindo sobre algo tão pesado e duro quanto uma porta. Apurou a visão, dando-se conta de que havia topado com um caixão.

"Mas é a febre do rato mesmo!" - Resmungou inconformado, afinal, ali, sem dúvida alguma, não era lugar para se abandonar um caixão. Antes de se pôr de pé, Oscar escutou um grito de mulher e rapidamente virou sua cabeça para a beira da barragem. Notou que a figura misteriosa não estava mais lá. Logo em seguida, outro barulho o fez voltar seus olhos para o caixão, que se abria lentamente, com uma mão branca e delicada começando a se revelar. Sangue escorria e pingava de seus dedos no chão, cada gota fazendo os olhos de Oscar se arregalarem mais e mais. Parecia que sua percepção havia voltado, e antes de o braço sair completamente de dentro do caixão, ele conseguiu se levantar e sair correndo. Passou pela outra parte do cercado e, desta vez, além de rasgar a roupa, acabou se cortando nos arames farpados.

Oscar correu da barragem até sua casa, onde chegou completamente sem fôlego. Entrou e bateu a porta com força, assustando sua esposa com o barulho estrondoso. Ela o avistou passando pela sala com a rapidez de um gato que foi pego em cima da mesa. Oscar foi direto para o quarto, onde se enfiou dentro do guarda-roupa. Tentou explicar o que tinha acontecido para sua mulher, mas aquele forte cheiro de bebida não permitia que ela acreditasse em sua história.

Por Mudo 

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